Twitter, Facebook, Instagram, Tik Tok, Youtube, são os nomes quentes de hoje. Mas ao buscar um nome para o meu Blog lembrei-me que quando criança gostava de DROPS MISTO. Aquele que tinha vários sabores, várias cores. Talvez um conjunto de sabores me diz melhor sobre a diversidade da vida. Sou cineasta porque o cinema trabalha com muitas formas de expressão artística. Essa diversificação de interesses será o tema de nosso Blog onde conto com vocês para um animado debate de temas atuais.
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Gerdau com quase autossuficiência em minérios
Notas de Minas: Gerdau com quase autossuficiência em minérios: Gerdau prestes a ser autossuficiente em minério (...) Até dezembro, a empresa deverá cumprir os planos de fornecer toda a matéria-p...
Aécio Neves : " Tancredo é motivo de orgulho para todos os brasileiros"

Belo Horizonte - 27-10-11
Assuntos: Documentário "Tancredo, a Travessia", legado de Tancredo Neves, demissão do ministro do Esporte, corrupção no governo federal
Sobre a importância do documentário.
Na verdade, para todos os brasileiros. Principalmente, para as gerações mais jovens, que talvez não se lembrem com muita clareza que há 25 anos o Brasil vivia uma ditadura. Acho que é uma aula, uma aula de história. A nossa intenção, inclusive, é que esse filme possa ser visto nas escolas de Ensino Médio, nas universidades, porque o que construímos, o que nós conquistamos, eu digo nós, brasileiros, inclusive de gerações antes da minha, é algo muito valioso. Vivemos hoje na plena democracia, com acesso à informação, com as instituições funcionando, absolutamente livres. É uma conquista tão consistente, tão importante para o nosso futuro, que ela merece ser valorizada. E esse filme permite isso. Permite a valorização da nossa história, mostra a travessia, a dificuldade. Muitos ficaram pelo caminho, na verdade, para que hoje, sobretudo os mais jovens, possam viver num país que cresce, que se desenvolve economicamente e com suas instituições democráticas estáveis. Portanto, não é um filme familiar. Na verdade, Silvio Tendler já havia feita Jango, Juscelino, e agora ele completa uma trilogia, trazendo aos brasileiros a oportunidade de conhecer pela ótica, pelo olhar, pela história de Tancredo, o que aconteceu no Brasil nos últimos 50 anos.
O sexto ministro que cai, senador. Qual a avaliação que a oposição faz nesse momento? Vai ser um governo marcado pela corrupção, pelo menos no início?
Olha, eu dizia desde o início da formação do governo que essa lógica, pela qual o governo se compôs, não tinha condições de dar certo. Primeiro, o inchaço da máquina. Não se justifica, em um país como o Brasil, termos praticamente 40 ministérios. Estados Unidos, Inglaterra, por exemplo, tem de 15 a 18 ministérios. Não funciona, não há condições de você avaliar a ação dos ministros. Ainda mais com a lógica de entregar aos partidos políticos ministérios como se fossem feudos. Infelizmente, isso não aconteceu de ontem para hoje, é claro que o governo sabia o que estava acontecendo no Ministério do Esporte, como sabia o que estava acontecendo nos outros ministérios. O que, apenas, é que o chamado malfeito, para usar um termo que a presidente gosta de usar, é só enfrentado quando vira escândalo. A verdade é essa. Enquanto não vira escândalo, há uma certa complacência, o governo parece que convive bem com esse aparelhamento absurdo da máquina pública. Em relação ao Segundo Tempo, eu me lembro, que ainda eu era governo no meu primeiro mandato, procuramos o Ministério do Esporte porque eles cancelaram as parcerias com o Estado. Esse programa era em parceria com o Estado e o Estado fazia convênios com municípios apenas, exatamente com a intenção, obviamente, estamos vendo agora, não imaginava naquele tempo, de aparelhar como aparelhou. O resto é consequência disso. Infelizmente, é muito ruim para o Brasil que isso esteja acontecendo. Mas, enquanto não tivermos um governo que efetivamente invista em gestão pública de qualidade, que governo com planejamento, com coragem política para ousar nas reformas que não aconteceram, vamos assistir a isso, a cada dia um problema. E é um governo reativo. Nenhuma dessas denúncias, nenhuma dessas quedas de ministros se deu por uma ação do governo, por uma avaliação interna do governo, através de auditorias prévias, como fazíamos em Minas. Essas quedas de ministros não se deram porque a Controladoria-Geral da União denunciou esses problemas, identificou esses problemas. Não. Todas elas ocorreram por denúncias da imprensa, por pressão da opinião pública. O governo age reativamente. Enquanto não houver denúncia, está tudo bem. Infelizmente, o Brasil está perdendo um tempo enorme, de avançar com uma velocidade muito maior, com um governo muito mais eficiente.
E sucessão presidencial. Como chega lá?
Não tenho essa preocupação hoje. Temos uma agenda enorme a construir aqui em Minas Gerais, no Parlamento. E vou repetir aqui em homenagem ao Tancredo, vocês que são convidados, obviamente, para assistir o filme, ouvirão isso da própria boca dele: política é destino. E Presidência, mais do que qualquer outro posto, é mais destino ainda. Vamos trabalhar como temos feito e, obviamente, se esse desafio couber a mim ou a outro companheiro, cada um de nós tem que estar pronto para ele.
Qual o principal legado deixado pro Tancredo, tanto como homem público, como um cidadão comum?
Tancredo tinha duas características que se complementavam. Talvez a mais conhecida ou reconhecida é a do grande conciliador, o homem capaz de articular forças díspares, forças antagônicas em busca de um objetivo comum, como foi o processo de transição democrática. A mais bela obra política não apenas da história do Brasil, mas certamente da América Latina. Mas, ao lado do conciliador, do homem do diálogo, existia o homem corajoso. Aqui, vamos assistir vários episódios em que Tancredo, até do ponto de vista físico, pessoal, ficou ao lado da Constituição, ao lado da democracia, das liberdades. Foi assim enquanto ministro de Getúlio Vargas, no dia fatal, no momento em que Getúlio entrega a sua própria vida pela Constituição, Tancredo estava ao seu lado propondo a resistência pessoal. Depois, mais uma vez, na posse de Jango, ele no Parlamento, fisicamente, enfrentou o presidente do Congresso que declarou vaga à Presidência da República, enquanto Jango ainda estava em território brasileiro. Tem uma casa belíssima de Juscelino que vamos também assistir no filme, que Juscelino escreve de próprio punho, quando vai para o exílio, momento de dor para ele, ele diz que se lembra bem que a mão de Tancredo foi a última que ele apertou no momento em que ia para o exílio. Enfim, há uma série de acontecimentos que mostram que, ao lado do grande conciliador, existia também um homem extremamente corajoso, em defesa das suas ideias, daquilo em que acreditava. Nessa política de hoje, de tantas denúncias, essa política tão rasteira, esse aparelhamento da máquina pública como jamais se viu antes na história do Brasil, partidos políticos que crescem a cada dia, que surgem a cada dia, sem representar absolutamente nada, é bom lembrarmos que em um passado não muito distante, no Brasil, tivemos políticos que construíram as bases para que as nossas gerações construam um futuro melhor para todos. Tancredo é motivo de orgulho não para mim apenas como seu neto, para minha mãe, sua filha, para minhas irmãs, pros outros parentes. É motivo de orgulho para todos brasileiros.
Cabral relembra que presidiu junto com Aécio a Juventude do PMDB

25 de outubro de 2011 | 22h 41
LUCIANA NUNES LEAL - Agência Estado
Não podia ser mais carinhoso o encontro entre o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), na noite de hoje, durante a pré-estreia, em um cinema da zona sul da capital fluminense, do filme "Tancredo, a Travessia", sobre a trajetória do presidente Tancredo Neves (1910-1985), avô do ex-governador mineiro.
A amizade de mais de 20 anos, reforçada pelo parentesco de Aécio com a ex-mulher de Cabral, Suzana Neves, ficou ainda mais intensa após a mobilização do senador contra a proposta de divisão dos royalties do petróleo aprovada na semana passada pelo Senado e que, se mantida, causará grande prejuízo a Estados produtores do minério, como o Rio.
Ao chegar ao cinema, Aécio disse que agiu "por um novo pacto federativo" e cobrou "generosidade" do governo federal. "Faltou ao governo (federal) cumprir o papel de coordenador da federação e ter um pouco mais de generosidade, abdicando da receita futura da União, que era a proposta do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que eu apoio. Tenho conversado muito com o Sérgio (Cabral) e compreendo claramente suas razões", afirmou Aécio.
Poucos minutos depois, Cabral chegou ao cinema e se referiu ao senador mineiro como "um amigo querido desde 1980". O governador revoltou-se especialmente contra o trecho da proposta que altera contratos já firmados de exploração de petróleo. "O que está em discussão é um princípio básico de respeito ao ato jurídico perfeito. Esse é o princípio geral que o senador Aécio defende, e não é à toa que estamos diante de um documentário de seu avô Tancredo Neves, que era um democrata. Foi esse princípio que levou o (então) presidente Lula a vetar (outro projeto de mudança da divisão dos royalties), no ano passado, e espero que leve a presidenta Dilma a fazer o mesmo", disse Cabral, que hoje terá mais uma reunião com a presidente, em Brasília.
Antes do início da sessão, Aécio e Cabral se abraçaram e posaram para fotos com familiares. "Impossível eu me aproximar ainda mais do Aécio, um amigo querido desde quando presidimos juntos a Juventude do PMDB, em 1980", declarou o governador do Rio. Aécio, por sua vez, classificou a amizade entre as famílias Neves e Cabral como "indestrutível".
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No lançamento de "Tancredo, a Travessia" , Aécio reafirma: "Ninguem é dono de seu destino"

25/10/2011
Fonte: Gabriel Manzano - O Estado de S.Paulo
Em tributo a avô, Aécio olha para 2014
Senador diz que 'ninguém é dono do seu destino' em pré-estreia de filme sobre Tancredo, que reuniu tucanos em cinema paulistano
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) não conseguiu fugir do tema eleições presidenciais, ontem, em São Paulo, na estreia do documentário Tancredo, a Travessia, que retrata alguns dos principais episódios da vida de seu avô. Indagado sobre sua possível candidatura em 2014, como um "continuador" do destino político do avô, o senador filosofou: "O que determina isso são sempre as circunstâncias. Ninguém é dono do seu destino".
Aécio foi à exibição acompanhado da irmã, Andrea, e da mãe, Inês Maria. A cúpula tucana também prestigiou o filme, produzido pela Intervídeo, de Roberto d'Ávila, e dirigido por Silvio Tendler. Entre os convidados estavam o governador Geraldo Alckmin - que levou consigo a primeira-dama, Lu Alckmin - , os ex-governadores José Serra e Alberto Goldman e o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE). Também estavam lá outros secretários tucanos, como Andrea Matarazzo, de Cultura do Estado, e José Gregori, dos Direitos Humanos do município, e o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário.
"O Brasil perdeu pelo menos dez anos com esse episódio", comentou Aécio sobre a morte de Tancredo, um dos momentos cruciais do filme. Ele desconsiderou as cobranças de que a produção poderia ajudar sua eventual candidatura. "Fiz questão que não fosse um filme sobre família. Queríamos a figura de Tancredobem retratada."
Eleições foram ainda o tema de Alckmin. Logo ao chegar ele comentou os apelos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que o PSDB olhe melhor para a periferia. "É o que eu sempre disse, a gente tem de amassar barro. Já fizemos isso, e vamos continuar fazendo."
Serra também falou de 2014, ao enfatizar a importância das alianças, uma marca de Tancredo. "Alianças são fundamentais, elas fazem parte do cenário, especialmente em um cenário multipartidário como o nosso."
Participação. Em 95 minutos, o filme dá a Aécio um tratamento generoso. Embora não tivesse participação direta nos episódios mais importantes da vida política do avô - ele tinha 25 anos e era secretário particular de Tancredo em 1985 -, suas aparições são marcantes: está presente em mais de dez inserções. São bem mais breves as cenas de políticos que conviveram com Tancredo e partilharam de decisões, como os ex-presidentes FHC ou José Sarney.
O diretor se defende. "Toda vez que faço um documentário aparece alguém dizendo que favoreci alguém. Isso não procede. No filme eu ouvi Aécio, como ouvi o general Leônidas (Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército), ouvi o Fernando Lyra (ministro da Justiça do governo Sarney, indicado por Tancredo), tantos outros, até o Jarbas Vasconcelos (que foi contra a eleição indireta que elegeu Tancredo)". O diretor lembrou, ainda, que queria, apenas, "fazer um filme histórico".
D'Ávila refutou, como ele, a tese de que o filme serviria a propósitos políticos de Aécio. "Não é um filme chapa-branca", afirmou o produtor.
Em tom contido, mas elogioso, entrevista 28 personalidades e repassa episódios da vida do político mineiro: sua participação nos dias finais de Getúlio Vargas, toda a articulação para a posse de João Goulart em 1964, os contatos com o general Castelo Branco, a oposição ao regime militar e os discursos nos comícios das Diretas Já.
Aécio relembra seu avô, Tancredo Neves

AÉCIO NEVES/ Folha de São Paulo
Celebra-se, nesta semana, a maior manifestação de fé católica de todo o mundo: o Círio de Nazaré, em Belém.
Você já deve ter visto as imagens: mais de um milhão de fiéis por trás da corda que protege a imagem da padroeira -a qual, vista à distância, parece singrar suavemente por sobre o mar de cabeças devotas. A eletricidade emocional que percorre a procissão, do primeiro ao último peregrino, só pode ser descrita por quem já esteve lá, independentemente de crença religiosa.
Em 1984, acompanhei meu avô Tancredo Neves ao Círio de Nazaré. À magnífica demonstração de religiosidade veio juntar-se, naquele ano, a euforia do momento político que mobilizava todo o país. O sonho da redemocratização pacífica, sem traumas, tendo à frente um líder civil com a trajetória e a envergadura de Tancredo, ia pouco a pouco se convertendo em realidade, à medida que a campanha presidencial arrebatava corações e mentes dos brasileiros.
A eleição no Colégio Eleitoral seria em 15 de janeiro. Naquele cortejo do Círio, a comoção religiosa de centenas de milhares de fiéis irmanou-se ao entusiasmo da recepção a quem, em meio ao frenesi popular, já chamavam de "o presidente da redemocratização".
No carro, um Aero Willys conversível branco com estofamento de couro vermelho, ao lado de meu avô, agasalhados pelo afeto da multidão, perguntei a ele: "O senhor imaginaria chegar aqui com toda essa popularidade?" Ele, com comovente sinceridade e um quê de resignação, disse: "Vou gastar todo esse crédito em três meses, pode acreditar".
E nem precisou mais dizer. Acompanhando-o no dia a dia de jornadas estafantes, eu percebia que, entre preservar a popularidade e implantar as medidas de que o Brasil carecia, Tancredo não hesitaria em trilhar o caminho espinhoso do futuro, abrindo mão dos aplausos do presente. Pelo país, ele estava disposto a pagar o preço. Convocaria a Constituinte.
Tomaria decisões amargas contra a inflação. Encaminharia as reformas que ainda hoje o Brasil aspira e merece.
Essa é a dimensão de um estadista. Naquele momento, envolvido pela fé de tantos brasileiros, aprendi uma importante lição da vida pública, que outros também conhecem. O estadista é capaz de contrariar os interesses paroquiais, miúdos; o estadista foca suas prioridades nas grandes questões nacionais; propõe e enfrenta mudanças estruturais que sacodem a inércia e a pasmaceira da administração. Nunca é refém do imediato. Não teme enfrentar incompreensões momentâneas.
Os anos passam, as oportunidades escapam, o Brasil se arrasta. Que o exemplo do Círio de Nazaré, com a robustez de suas convicções mais profundas, possa um dia incendiar nossas consciências cívicas.
AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras nesta coluna.
Tancredo Neves, o homem que mudou o Brasil

Mudou o Brasil. Liderou a reconquista pacífica da democracia, morreu por ela. Foi o melhor presidente que o Brasil não teve
Fonte: Ronaldo Costa Couto – Folha de São Paulo
1984 , campanha presidencial. Tancredo precisava desvencilhar-se de boataria sobre sua saúde, um veneno para a candidatura. Fazer exames e escancará-los? Nem pensar! Sentia-se bem, mas era cismado com câncer, que já levara dois de seus 11 irmãos. Resposta a jornalistas, em São Paulo: “Estou com uma saúde irritante”.
No final de 1983, despachávamos no Palácio da Liberdade quando chegou a notícia de que Flávio Marcílio, presidente da Câmara dos Deputados, tinha a doença. Lamentou, abateu-se. Ficou de pé, apertou o abdômen com a mão direita, quase um hábito, e disse: “Esse “bichinho” pode estar dentro da gente sem sabermos”. Não estava, saber-se-á depois.
Realizava-se na política. Aos 74 anos, acordava com o sol, ia até tarde da noite. Todos os dias. Era um sufoco acompanhar seu ritmo. Mas delicioso privilégio conviver, trabalhar e aprender com Tancredo. É uma de minhas raras admirações que o tempo não levou.
Estrategista, pensava grande, via longe. Não radicalizava, fugia de decisões emocionais, errava pouco. Sabia antecipar-se, sabia esperar. Confiava, desconfiando. Conhecia os homens, suas manhas e artimanhas.
Dizia-se apenas um servidor público. Íntegro, patriota, culto, bom orador, escrevia bem. Amava o direito, conhecia economia política. Hábil negociador e operador político. Pilha de simpatia, argúcia, astúcia. Do adversário Zezinho Bonifácio: “O Tancredo é um político capaz de tirar as meias sem tirar os sapatos”.
Dominava os principais temas domésticos e internacionais. Lia os grandes jornais brasileiros e o francês “Le Monde”. Gostava de rádio e televisão, inclusive de algumas novelas. Leitor fiel dos clássicos, entusiasta de música clássica.
Não esquecia seu pequeno mundo. Perto da morte, a alma sangrando, o corpo conectado a tubos e equipamentos indispensáveis, várias vezes rasgado, as entranhas feridas e devassadas, lembrou-se de que o padre Lopes, velho amigo, perdera a paróquia num distrito de São João del-Rei.
Chamou o neto Aécio: “Temos de ajudá-lo. Mande ver o que está acontecendo. Quero notícias”. Não fumava, pouco bebia. Bom de garfo, adorava almoçar e jantar sem pressa, uma taça de vinho junto.
Nunca o vi gripado. Perguntei qual era o segredo. “Acordo cedo e tomo banho frio, de chuveiro. Aconselho, é só acostumar. Molhe primeiro os pulsos e entre.” Tomava uma aspirina por dia.
Parecia não ter medo. Quase não se estressava, apesar da trabalheira, das pressões de governar, das maratonas de campanha, das manobras golpistas que enfrentou. Deitava e logo dormia.
Como conseguia? “Ah, meu filho, sempre faço a minha parte o melhor que posso. O resto é com Deus e Nele a gente pode confiar.” Divertido, sutilmente irônico, espirituoso. Um deputado autocandidato a secretário de Estado não parava de plantar notas. Tancredo, governador eleito, mudo. Mais notas, mais silêncio. Posse chegando, pede audiência: “Doutor Tancredo, o que que eu faço?
Tá todo mundo perguntando se vou ser secretário”. Tancredo: “Diga que eu te convidei e você não aceitou”.
Comigo, no início da campanha presidencial, meio de agosto de 1984: “Agora é construir alianças e conseguir os votos, um olho no PDS e outro no PFA”. “PFA, doutor Tancredo?!” “Sim, Partido das Forças Armadas.”
Oito semanas depois da mágica vitória, a hospitalização em Brasília. O desastroso, tumultuado e espetacularizado tratamento, o sofrimento medonho. Trinta e oito dias de martírio do corpo e do espírito. A absurdamente concorrida cirurgia da noite de 14 para 15 de março de 1985, finalizada a menos de nove horas da investidura do vice José Sarney, que presidirá a consolidação da democracia.
A falsa notícia de Diverticulite de Meckel e a previsão de alta e posse para a semana seguinte. A infecção, a dor implacável. A segunda cirurgia e a nova ilusão de melhoria. Até pose para fotos. A brutal hemorragia interna, a transferência às pressas para São Paulo. “Eu não merecia isso”, diz a Aécio.
Mais cinco cirurgias, a septicemia e o fim da agonia em 21 de abril de 1985. Sua morte fez o Brasil chorar e pôs nas ruas a maior multidão que São Paulo já havia visto. Espanto no Brasil inteiro, frustração colossal, muitas sombras e suspeitas.
Mudou o Brasil. Liderou a reconquista pacífica da democracia, morreu por ela. Fez e faz muita falta. Sim, Tancredo Neves foi o melhor presidente que o Brasil não teve. Uma de minhas lembranças dessa rasteira da história é um desenho de Millôr Fernandes. O Brasil como enorme floresta e, estendida no chão, uma árvore gigantesca, a mais alta de todas: Tancredo.
RONALDO COSTA COUTO, escritor, doutor em história pela Sorbonne, foi amigo e assessor de Tancredo Neves, ministro do Interior e ministro-chefe da Casa Civil (governo Sarney). É autor, entre outras obras, de “Tancredo Vivo” e “História Indiscreta da Ditadura e da Abertura”.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Link da matéria para assinantes: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1503201008.htm
Andrea Neves homenageia seu avô Tancredo Neves, um homem por inteiro
Fonte: Andrea Neves – para o Valor Econômico
Tancredo de Almeida Neves, cujo centenário de nascimento e a lembrança dos 25 anos de sua morte se dão neste 2010, está entre os atores políticos de maior relevância no Brasil da segunda metade do século XX, bem como entre os que mais foram corajosamente coerentes.
À primeira vista, parecem existir dois Tancredos. Um, extremamente ameno no trato e nas palavras. Outro, corajosamente radical nas ações e nos gestos. A fusão dos dois fez um homem por inteiro. Comprometido, sempre, com a ordem democrática. Absolutamente leal aos companheiros, honrando a palavra que empenhava, transformou-se num interlocutor confiável na cena política durante décadas. E, surpreendentemente, não jogava para a plateia, não buscava os holofotes.
Ele costumava dizer: “Na política, só se lembram de mim na hora da tempestade”. Era verdade. Tancredo assume lugar de importância nacional em 1953. Com apenas 43 anos de idade, foi escolhido pelo presidente Getúlio Vargas como seu ministro da Justiça, considerada a pasta mais importante da época. Havia sido opositor do Estado Novo, advogava para trabalhadores e chegou a ser preso duas vezes no período. Mas considerava que Getúlio, ao ser eleito, ganhara legitimidade popular.
Foi fiel ao presidente até o seu último instante. Na última reunião do Ministério, quando os ministros militares diziam ser impossível enfrentar o golpe que se anunciava e pediam o afastamento do presidente, Tancredo se ofereceu para ir pessoalmente dar voz de prisão aos rebelados. “Mas você pode ser morto”, disse um deles. “A vida nos reserva poucas oportunidades de morrermos por uma boa causa”, respondeu.
Tancredo costumava se lembrar da última noite de Getúlio com emoção. Até os seus últimos dias, dizia que não conhecera ninguém em quem o senso de dever e o amor ao país fossem tão fortes. Lembrava que já se preparava para sair do Palácio do Catete quando o presidente o chamou e lhe entregou a sua caneta pessoal. “Uma lembrança desses dias conturbados”, disse ele. Tancredo guardou a lembrança e quando saía do prédio escutou o tiro com que o presidente se suicidara. Correu aos aposentos dele e ajudou a filha, Alzira, a socorrer o pai. Dizia que os olhos do presidente circularam pelo quarto, passaram pelos dele até se fixar nos da filha. Morreu olhando para ela.
Extremamente abalado, Tancredo chegou para o enterro em São Borja, no Rio Grande do Sul. Fazia muito frio. Oswaldo Aranha lhe emprestou um cachecol que ele guardou, dobrado, na sua gaveta de objetos pessoais por toda a vida. De São Borja, enviou um telegrama ao então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, denunciando a ação das forças golpistas. Há quem pense que o suicídio de Getúlio tenha atrasado em dez anos o golpe militar. O ano de 1964 poderia ter chegado em 1954.
Em 1961, a renúncia do presidente Jânio Quadros pegou o país de surpresa. O vice-presidente, João Goulart – ou Jango, como era mais conhecido -, se encontrava na China, e começaram as articulações para impedir a sua posse. Tancredo divulga um manifesto à Nação pedindo respeito à ordem democrática e que fosse garantida a posse do vice-presidente. O ambiente se agrava. Prioritário naquele momento era garantir que Jango chegasse ao país e ao governo.
Diante da irredutibilidade de setores militares, surge a solução parlamentarista. Tancredo vai de avião ao encontro de Jango no Uruguai. Haviam sido, Tancredo e Jango, ministros de Getúlio. A confiança entre os dois havia sido selada na antecâmara de uma tragédia. Em um momento de crise, em que o caráter e a fibra de um homem não podem se ocultar atrás de discursos de conveniência. Por isso era Tancredo – e não outro – que poderia ter entrado naquele avião.
Há quem diga que naquele encontro teria ficado implícita a certeza de que a alma brasileira, se consultada, não trairia a sua tradição presidencialista. Importante naquele momento era garantir que o presidente tomasse posse. Era evitar que 1964 chegasse em 1961. Jango tomou posse. Tancredo foi escolhido primeiro-ministro. Deixou o posto de chefe de governo em 1962 para disputar as eleições para a Câmara dos Deputados. Eleito, se transformou em líder do governo João Goulart na Câmara dos Deputados.
Chegou 1964. O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declara vaga a Presidência da República, apesar de o presidente João Goulart se encontrar em solo brasileiro. Diante de uma Casa silenciosamente acovardada, escutam-se algumas vozes e gritos inconformados no plenário. Quem ouvir com atenção o áudio da sessão vai escutar, nesses gritos, as vozes da consciência nacional. Uma voz se destaca: “Canalhas!” Era Tancredo.
Naquela época também deputado, Almino Afonso conta: “Até hoje me recordo com espanto do deputado Tancredo Neves, em protestos de uma violência verbal inacreditável para quantos, acostumados à sua elegância no trato, o vissem encarnando a revolta que sacudia a consciência democrática do país. Não deixava de ser chocante ver a altivez da indignação de Tancredo e o silêncio conivente de muitas lideranças do PSD”.
O jornalista José Augusto Ribeiro diz que, ao sair dessa sessão, o indignado Tancredo deu uma entrevista: “Acabam de entregar o Brasil a 20 anos de ditadura militar!” Enfrentou soldados para se despedir pessoalmente de Jango.
E 1964, adiado tantas vezes, finalmente chegou. O primeiro momento, fortemente simbólico, foi a eleição do marechal Castelo Branco. Tancredo foi o único deputado do PSD de Minas a se abster na votação.
Vieram as cassações. Os inquéritos policiais militares. Nem os ex-presidentes são poupados. Juscelino foi convocado a depor. Não foi sozinho. Tancredo o acompanhou aos depoimentos. Solidário.
Exilado, o talvez mais festejado presidente que o país já tivera, se dirigiu ao aeroporto para deixar o Brasil. Era o ex-presidente bossa nova. Era um ex-presidente da Republica que seguia rumo ao exílio. Três pessoas acompanharam JK até o avião. Duas eram da família. A outra era Tancredo. “Me lembro que a sua foi a última mão que apertei!”, disse Juscelino na primeira carta enviada do exílio.
São anos de um paciente ostracismo para Tancredo.
Morre o presidente João Goulart no Uruguai. O governo militar a princípio se recusa a permitir que ele seja enterrado no Brasil. Começam diversas articulações. Tancredo recusa conselhos e vai ao general Golbery do Couto e Silva: “Ninguém pode negar a um presidente o direito de descansar entre o seu povo!” E, quando a conveniência indicava, de novo, o contrário, lá estava Tancredo em São Borja. Mais uma vez, a memória de Almino Afonso: “Era a única liderança de porte nacional presente no cemitério”.
Juscelino morre. De pé, Tancredo velou o presidente. É de Tancredo o mais forte e emocionado discurso de homenagem ao ex-presidente.
Trinta anos depois de 1954, é a vez de 1984. A campanha das Diretas Já ocupou as ruas e o coração do país. Tancredo participou, articulou, discursou. Mas conhecia a história. Ali estavam maduras as condições para deixar 64 para trás. Ideal que fosse pelo voto direto. Se não pudesse ser, que fosse por outro caminho. Importante era abrir a porta de saída. A porta que ele ajudou a não deixar que fosse aberta em 1954 e em 1961 precisava agora ser fechada.
De novo, era ele que precisava tomar aquele avião. Do ponto de vista da história, Tancredo estava pronto. Tinha que ser ele. Era o que se costumava ouvir dos analistas mais experientes. “Esta foi a última eleição indireta deste país”, foram as primeiras palavras do seu discurso como presidente eleito.
Getúlio, Juscelino e Jango sabiam do que ele estava falando. Sabiam o que havia custado chegar até ali. Saberiam o que ainda ia custar?
O avião decolou novamente. O piloto não desembarcou. Mas conduziu o voo a um pouso seguro. Afonso Arinos disse que “alguns homens dão a vida pelo país. Tancredo deu mais, deu a morte”.
Lembro-me dos olhos marejados de Tancredo recordando com respeito e reconhecimento o extremado senso de compromisso de Getúlio com o país. “Ele sabia o que estava em risco”, costumava dizer. “Vocês não imaginam o que foi a multidão que acompanhou o funeral do presidente. Foi ela, em torno do caixão do presidente Vargas, que selou o pacto que impediu, naquele momento, o retrocesso da ordem democrática”, insistia em nos explicar.
Mal sabia Tancredo que 31 anos depois, em 1985, uma outra multidão velaria o corpo de um outro presidente.
E que ele também deixaria a vida para entrar na história.
Andréa Neves, neta de Tancredo, é jornalista e presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais (Servas)
Tancredo, um homem por inteiro
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