Reforma busca maior legitimidade na representação político-partidária
A política nunca esteve tão dissociada da vida dos brasileiros. O país só vai mudar, avançar, superar suas dificuldades, quando a atividade política conquistar o reconhecimento da sua legitimidade. E, para isso, precisamos de mudanças concretas e rápidas.
Hoje as decisões tomadas pelos governantes estão distantes dos anseios dos governados. Os eleitores não se sentem representados nas câmaras de vereadores, nas assembleias legislativas, no Congresso, no Executivo. É assim no Brasil, tem sido assim também em muitos lugares do mundo.
Esse divórcio distorce o exercício de poder, alimenta a corrupção, contamina a construção de consensos, desestimula a participação da população e alimenta conflitos desnecessários. Sem maior interação entre governo, política e sociedade, a democracia fenece.
Acaba de ser aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara uma Proposta de Emenda Constitucional de minha autoria e do senador Ricardo Ferraço que estabelece novas regras para funcionamento dos partidos políticos e veda a possibilidade de coligações partidárias nas eleições proporcionais.
A intenção é caminharmos para uma representação política mais próxima do que espera a sociedade e proporcionar melhores condições de governabilidade para o país. Tal como é hoje, não conseguimos nem uma coisa nem outra.
O Brasil tem atualmente 27 partidos representados no Congresso, 35 registrados na Justiça Eleitoral e mais 58 na fila aguardando pela regularização. O que explica isso? O simples fato de a proliferação de legendas ter se tornado em alguns casos um rentável negócio.
Siglas sem nenhuma representatividade, sem qualquer ideologia que as legitimem, são fundadas com propósito único de obter um naco das verbas públicas destinadas no Orçamento da União para custear o funcionamento dos partidos políticos.
Na última semana, em ampla reunião, avançamos na construção de consensos em torno dessa proposta. Aspectos originais foram flexibilizados para que pudéssemos dar os primeiros passos de mudança na realidade. Essa não é a melhor reforma, mas é a possível de ser implementada já. Outros aspectos, como a mudança no sistema eleitoral e o financiamento das campanhas, precisam ser debatidos. E rápido.
Buscar maior legitimidade da representação político-partidária é um dos passos fundamentais para resgatarmos, aos olhos de muitos brasileiros, a importância da atividade política como pilar de defesa da democracia.
O distanciamento entre a população e seus canais de representação política é terreno fértil para o crescimento da demagogia, da desinformação e do autoritarismo, os grandes adversários de uma sociedade democrática.
Aécio Neves / Coluna
Folha de São Paulo