
Candidato do PSDB à presidência, senador falou à APJ
Promover um novo pacto federativo, reduzir os ministérios pela metade, simplificar o sistema tributário e renegociar as dívidas de estados e municípios estão entre as prioridades de campanha do senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência da República. Na última segunda-feira, Aécio deu ênfase a esses e outros pontos de sua campanha ao visitar a sede da APJ (Associação Paulista de Jornais), na capital paulista, onde foi recebido por diretores da entidade. Foi a primeira entrevista após a convenção do partido, que oficializou o seu nome para a disputa eleitoral em 2014. Na ocasião, ele defendeu a reversão do processo de desindustrialização, com perda de competitividade em setores vitais da indústria. Confira os pontos principais da entrevista:
Jornal de Limeira/APJ - Por que o senhor quer ser presidente da República?
Aécio Neves - Para mudar o Brasil. Percebo, como muitos brasileiros, que mais quatro anos nesse modelo que aí está fará ainda mais mal ao Brasil. Muitas das conquistas que nos trouxeram até aqui, como a estabilidade da moeda, a credibilidade do país, o controle inflacionário, estão hoje em risco pela leniência de um governo que não tem se mostrado preparado para o enorme desafio que é administrar um país como o Brasil. As parcerias com o setor privado são essenciais para alavancar o desenvolvimento do país com as obras de infraestrutura hoje no meio do caminho ou adiadas.
JL/APJ - O senhor tem defendido um novo pacto federativo, por quê?
Aécio - Sempre alertei para a fragilização da federação. O Brasil se transformou quase num estado unitário. Apenas o governo central arrecada e define o destino das unidades federadas, estados e municípios. Precisamos refundar a federação com percentual maior no Fundo de Participação de estados e municípios. De 2009 para cá os municípios brasileiros perderam R$ 11 bilhões de arrecadação. Renegociação da dívida dos estados e fim da tributação entre entes federados. Tudo isso conjuntamente poderia possibilitar um resgate ao longo do tempo da capacidade de investimento de estados e municípios.
JL/APJ - Qual a proposta do senhor em relação à alta incidência de impostos?
Aécio - Nós temos a mais escorchante taxa de juros do planeta. No primeiro trimestre deste ano, os gastos aumentaram 15% enquanto as receitas aumentaram 7%. A minha proposta é no início de governo fazer a simplificação do sistema tributário, que é um dos mais complexos do mundo.
JL/APJ - Não faz parte da política trazer os aliados para governar junto?
Aécio - Sim. Mas quando assumi o governo de Minas, cortei em um terço as secretarias de estado. Criei uma coisa em Minas que quero levar para o Brasil: para ocupar cargo na área administrativa ou financeira de qualquer órgão tem que passar por uma certificação feita por universidade federal. 70% das indicações desapareceram porque as pessoas não foram para se submeter à qualificação.
JL/APJ - São Paulo é o estado de maior logística, de maior mercado consumidor e de capital humano e faz parte da guerra fiscal. Qual é o papel de São Paulo nesse contexto?
Aécio - Quando falamos que o Brasil vive um gravíssimo processo de desindustrialização, o Estado mais afetado é justamente São Paulo. Quando se fala em recuperar a capacidade de crescimento do Brasil, e seremos o País que menos vai crescer nesses últimos quatros anos na América do Sul, estamos falando obviamente no interesse de São Paulo. O problema é da gestão interna, é da incapacidade desse governo (de Dilma Rousseff) de estabelecer a confiança, de atrair investimentos, de apresentar dados que sejam confiáveis àqueles que buscam aqui fazer os seus investimentos porque preocupou-se fundamentalmente ter um projeto de poder e não de país.
JL/APJ - Muitos municípios tiveram seus orçamentos assolados devido à dívida federalizada. Existe uma proposta de mudar o indexador dos juros. O que o senhor acha dessa proposta?
Aécio - Defendo essa proposta há muito tempo. Além disso, defendo que nos estados e municípios de menor IDH, o pagamento da dívida se transforme em investimentos em educação, saúde e segurança. Tem que compreender quais são as áreas de desenvolvimento econômico que tem viabilidade em cada região, que são mais competitivas, e estas é que têm de ter apoio do governo federal.
APJ/JL - Quais são as virtudes políticas de seus adversários?
Aécio - Cito dois méritos do presidente Lula (PT). O primeiro, quando assumiu o governo, ter esquecido todo o discurso de campanha e mantido os pilares macroeconômicos herdados do presidente Fernando Henrique intocados. Unificou os programas de transferência de renda iniciados no governo Fernando Henrique, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, herdando um cadastro único com 6 milhões e 900 mil famílias. Fez bem unificar, inclusive nós deveríamos ter feito isso lá trás, não fizemos e ele fez. A presidente Dilma é uma mulher de bem, honesta. Foi colocada numa fogueira para a qual não estava preparada.
JL/APJ - O senhor usou a expressão tsunami em relação ao atual governo. Como o senhor analisa a reação de Lula?
Aécio - Deve ter incomodado, mas o que eu disse é o sentimento que você encontra em qualquer pesquisa de opinião. O governo não apresentou nos últimos anos nada no campo das reformas estruturantes, porque prefere surfar na zona de popularidade. A responsabilidade pelo baixo crescimento, pelo recrudescimento da inflação, perda de confiança no Brasil, pelos baixos indicadores sociais, são de responsabilidade exclusiva desse governo.
APJ/JL - O senhor falou muito em compadrio. As manifestações de rua mostraram isso, que a população está cansada do sistema político? Que reformas o senhor propõe?
Aécio - Fernando Henrique fez a única reforma estruturante que o Brasil viveu nas últimas décadas, a monetária. Pretendo na largada do governo apresentar uma proposta de reforma política para ordenarmos as relações político-partidários no Congresso e permitirmos que as demais reformas sejam votadas. Defendo o restabelecimento da cláusula de desempenho, dar um período para que os partidos se enraízem na sociedade e aqueles que tiverem representatividade e falarem com determinados segmentos de pensamento, terão direito a Fundo Partidário e tempo de televisão. Defendo voto distrital misto, pois qualifica o parlamento, metade das vagas eleitas por distritos. Dividir o país em 256 distritos, em São Paulo 35 distritos. E terceiro, o fim da reeleição. Defendo 5 anos para todos e tem que ter pelo menos um mandato para ter a coincidência.
APJ/JL - Como o senhor vê os xingamentos no estádio à presidente Dilma?
Aécio - Ninguém tem sido mais crítico a este governo do que eu pelos rumos que está levando o Brasil. Você condenar as ações do governo, se manifestar de forma pacífica é absolutamente natural. Uma ofensa pessoal não nos leva a lugar nenhum, nem engrandece a nossa democracia. Ninguém vai ser mais contundente na crítica ao governo e apresentação de novas propostas, mas ninguém vai ser mais respeitoso no trato pessoal do que eu.
APJ/JL - Quais são as medidas que serão tomadas para garantir que a inflação chegue no centro da meta como o senhor tem falado, em quanto tempo isso é possível e que percentuais?
Aécio - O controle inflacionário é essencial para que o país retome o crescimento. O centro da meta é 4,5%. A partir de um ano e meio é possível vivermos um processo de diminuição da banda para que não varie tanto. Como chegar nisso? Primeiro, política fiscal transparente e austera, um ambiente de negócios sem o intervencionismo absurdo que hoje é marca do atual governo. Vamos criar um ambiente hospitaleiro e permitir que o Brasil possa crescer em bases sólidas, sustentáveis, nos próximos anos e isso vai ser essencial na política de inflação.
APJ/JL - O que significa para o senhor o Estado de São Paulo e em especial o Interior?
Aécio - São Paulo será decisivo nesta eleição. O meu compromisso com São Paulo é de uma parceria permanente com o governo de Geraldo Alckmin. Vamos construir políticas públicas de forma conjunta, políticas setoriais e industriais de forma conjunta.
APJ/JL - Como o governo federal pode ajudar na questão da mobilidade nos grandes centros?
Aécio - Em qualquer lugar do mundo, transporte de massa nas metrópoles é responsabilidade do governo federal. Vamos criar um ambiente claro de segurança jurídica para que o setor privado possa ser um parceiro da União e do Estado.
APJ/JL - Seus adversários dizem que o senhor pretende acabar com o Bolsa Família. O que senhor tem a dizer sobre isso?
Aécio - Vamos manter o Bolsa Família que na sua essência é uma criação do PSDB. Não queremos que o Bolsa Família seja moeda eleitoral como prefere o PT. O Bolsa Família vai continuar, vai ser cada vez mais qualificado. (Participaram da entrevista com Aécio Neves os jornalistas Aurélio Alonso, Edson Arantes, João Jabbour, Sérgio Vieira, Vinicius Lousada e Wilson Marini, do Núcleo Editorial da APJ).