Operação Lava Jato chega em Lula



Polícia capta conversa de Lula com diretor da Odebrecht

A conversa ocorreu em 15 de junho deste ano, quatro dias antes de Alexandrino ser preso pela Polícia Federal, sob suspeita de pagar propina a políticos e funcionários de estatais

"O aperto dessas eleições se deve ao fato de que o PT está no governo há 12 anos. Tudo tem um processo de ascensão de outro lado"


FOLHAPRESS

Pela primeira vez nas investigações da Operação Lava Jato, a Polícia Federal captou uma conversa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com um investigado que logo depois foi preso. No diálogo, com um diretor da Odebrecht chamado Alexandrino Alencar, o executivo avisa o ex-presidente que irá combinar um posicionamento conjunto com o Instituto Lula sobre as viagens à África que a empreiteira bancou. Alexandrino fez seis viagens com Lula à África, entre 2011 e o início de 2015.


Na época do diálogo, Lula e a Odebrecht estavam sendo questionados sobre os motivos que levaram a empreiteira abancar as viagens do ex-presidente depois de ter recebido recursos do BNDES. A conversa ocorreu em 15 de junho deste ano, quatro dias antes de Alexandrino ser preso pela PF, sob suspeita de pagar propina a políticos e funcionários de estatais.

"Eu conversei hoje com o Paulo, pra gente acertar o posicionamento nosso junto com o de vocês, tá? Combinado?", diz Alexandrino, referindo-se provavelmente a Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula. "Tá bom, tá bom. Um abraço, meu irmão. Tchau", responde Lula.

Lula não é investigado pela Lava Jato. Ao ser questionado se o ex-presidente poderia ser alvo da apuração, o procurador Carlos Fernando de Lima disse que "ninguém está isento de ser investigado". Na conversa telefônica, de 3 minutos e 42 segundos, Lula e Alexandrino conversam sobre um seminário realizado pelo jornal "Valor Econômico", no qual Marcelo Odebrecht defendeu os empréstimos do BNDES.

Lula liga a Alexandrino para saber como foi o evento. "Muito bom, muito bom", diz Alexandrino. "O Marcelo andou distribuindo umas verdades lá". Marcelo Odebrecht, que também foi preso em junho, criticou o que chamou de "desinformação" e "politização" sobre os empréstimos do BNDES para empresas brasileiras que atuam fora do país.

Alexandrino conta a Lula que até um "tucano de primeira plumagem", o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, defendeu as viagens ("isso não é matéria para politizar, nós temos que estar preocupados com o Brasil"). Lula diz que falou com o economista Delfim Netto sobre a mesma questão: "Ele vai publicar um artigo no 'Valor' dando o cacete", conta.

No artigo "Exportação de serviços e o 'complexo de vira-lata'", publicado um dia após a conversa, Delfim diz que "a maior miopia é não enxergar que 'exportar é o que importa'" e que demonizar os empréstimos do BNDES é "a maior afirmação do famoso 'complexo de vira-lata'".

Em nota, a Odebrecht disse que "lamenta que as informações sejam colocadas fora de contexto, traçando conclusões equivocadas que confundem a opinião pública". O Instituto Lula não se pronunciou a respeito.
http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/pol%C3%ADcia-capta-conversa-de-lula-com-diretor-da-odebrecht-1.1086367