O Filme é uma arte o cinema é uma indústria


“ As sociedades foram moldadas mais pela natureza dos meios através dos quais aos homens se comunicam do que pelo conteúdo da comunicação”
As palavras de McLuham, de certo modo, vão ao encontro de muitos teóricos que estudaram a forma fílmica e seu impacto sobre o público


Mais do que outra arte o cinema está condicionado ao consumo. E nenhuma outra arte exerce influencia comparável sobre os hábitos do consumidor. Sem dúvida o cinema é um dos principais modeladores do mundo contemporâneo. Ainda que sem a mesma força global que possuíam antes da difusão da televisão, a nível qualitativo os filmes influenciam poderosamente desde os hábitos mais elementares de consumo e de comunicação até as opções morais e existenciais

Ao transfigurar até os menores gestos humanos com suas dimensões próprias de tempo e espaço, com seu impacto sensorial, o cinema deixou para trás todos os outros meios de expressão no que tange a influencia sobre o comportamento. A expressão estratificada em sequência cinematográficas atinge , sem necessidade de interpretação intelectual ( embora essa possa se realizar “ a posteriori “ ) e subconsciente do espectador.


Os efeitos da televisão, suas consequências psicológicas e sociais são outra história.
Evidentemente , nenhum filme poderia oferecer ao espectador impacto maior ao da transmissão direta para todo o planeta da descida dos primeiros astronautas na lua.
A transmissão “ ao vivo” dos primeiros passos em solo lunar exprimia muito mais do que o conteúdo do relato ou da mensagem comunicado da proeza. E o impacto da mensagem alem de seu ineditismo se devia a soma de duas tecnologias : a da Televisão e a da Astronáutica.


Todo telespectador testemunha a absorção de um meio pelo outro. Fatalmente o vídeo absorveu muitos recursos da linguagem cinematográfica. A natureza de sua mensagem nem por isso é menos diferente. A própria transmissão permanente de filmes pela televisão só fa acentuar as dessemelhanças e nesse caso o aparelho de televisão é somente um mero receptor do filme que está longe da concentração solicitada ao espectador pelo diretor do filme.


Alem disso o comportamento e a disposição psicológica domestica diferem dos que testemunhamos nas salas escuras dos cinemas e como dissemos o meio altera profundamente a mensagem.


Os conflitos entre os interesses do artista e os da industria levaram um teórico e cineasta italiano Luigi Chiarini a seguinte proposição : “ O filme é uma arte e o cinema é uma indústria “
A veracidade do aparente paradoxo basta para caracterizar a absoluta novidade do cinema no panorama das artes.


Sem duvida é desejável uma produção de filmes voltadas para o entretenimento do público. Alias essa é a base da indústria do cinema americano. Lá os filmes estão bem sintonizados com os requisitos do consumo. Assim com as novelas no Brasil. Já o cinema de “ autor” no qual o cineasta procura colocar por inteiro a sua sensibilidade, sua maneira pessoal de ver o mundo,enfim, toda a riqueza de sua personalidade, contribuiu para diversificar e valorizar o acerto de experiências humanas e estéticas da cinematografia. Mas isso não deve levar a um distanciamento do público, pois nesse caso costuma inviabilizar a trajetória do artista, alem de prejudicar o sistema como um todo. Um filme produzido e não exibido é uma péssima experiência para todos. Para o realizador, para os artistas e técnicos envolvidos, para os investidores, para o governo que deixou de receber esses valores que poderiam ser utilizados de melhor forma, etc.


E nós estamos com muitos filmes de longa metragem sem chances de serem exibidos.


O filme é uma arte muito cara para ser feita. Não é como escrever um livro, compor uma música, pintar um quadro, moldar uma escultura ou fazer uma foto. Por mais que haja uma legislação de incentivos fiscais onde o Governo Brasileiro abre mão de uma importante parcela de recursos para ajudar esse importante setor, é fundamental que o realizador tenha consciência de que nessa indústria a exibição de seu produto não depende dele e sim de terceiros. E mesmo se não dependesse de terceiros , o simples fato de um filme estar em cartaz nos cinemas não significa que fará o espectador sair de casa para ir assisti-lo nos cinemas.

Quantos são os filmes que entram e saem de cartaz sem que nós tomemos conhecimento de sua existência?

Devemos pensar no assunto.