Covid: Taxa de adesão ao isolamento em BH tem menor índice registrado e preocupa


"Temos um horizonte de uma vacina à frente. Não podemos relaxar aos 47 minutos do segundo tempo e perder o jogo", diz o infectologista Estevão Urbano
Por WALLACE GRACIANO
30/10/20 - 12h42
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Adesão ao isolamento social é cada vez menor em BH

Foto: Cristiane Mattos/ O Tempo


Os belo-horizontinos estão cada vez menos engajados na luta contra o novo coronavírus (Covid-19). Nem mesmo as notícias das quebras de recordes de casos quase que diariamente em todo o planeta e da segunda onda do patógeno que assola a Europa parecem preocupar a população da capital de Minas Gerais, que vem registrando dados cada vez menores de adesão ao isolamento social. Dados da Secretaria de Estado e Saúde (SES-MG) divulgados no início da semana, apontam que 36,30% dos habitantes ainda mantém a adesão ao perído restrito, o menor índice desde o início da pandemia.


Parte disso deve-se, na opinião de especialistas, ao cansaço acumulado da população para manter o distanciamento dos entes queridos e das atividades cotidianas. A isso, soma-se a flexibilização paulatina da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que optou por reabrir algumas atividades para reaquer a economia devido aos índices em queda registrados, como o da taxa de ocupação de UTI's, que é de 30%, e o da taxa de transmissão, que é de 0,89, segundo o boletim divulgado nesta sexta-feira (30) pela Secretaria Municipal de Saúde. Porém, segundo eles, o cuidado ainda precisa ser mantido.

É o que aponta o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e um dos membros do comitê te enfrentamento à Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, Estevão Urbano. O especialista lamenta que a população tenha números tão baixos de adesão e que tenha relado após a flexibilização de algumas atividades cotidianas.

"Eu vejo com muita preocupação a queda do isolamento a níveis tão baixos, ainda mais com o vírus circulando. O RT (taxa de transmissão) está baixo justamente porque todos os protocolos foram seguidos. Obviamente que com a flexibilização e o cansaço, as pessoas começaram a relaxar. Porém, é preciso estar alerta: a transmissão pode aumentar e, por consequência, o número de internações e mortes também. Nossa preocupação sempre é nesse sentido de que, por mais cansada que esteja, o risco continua muito alto. E a possibilidade de recaída e aumento das internações é real. Não podemos colocar tudo a perder justamente quando estamos num horizonte próximo do fim", aponta Urbano.

Sua opinião é corroborada pelo colega de profissão, o médico infectologista Leandro Curi, que entende que o momento ainda pede calma.

"Esses valores são preocupantes. O nosso RT é muito lábil, e qualquer mudança de comportamento de uma população reflete nele em poucos dias. Por isso, há chances de piora dos valores a todo momento; e isso pode acontecer num momento em que muitas instituições já não mais têm o mesmo número de leitos e profissionais suficientes para elevações de casos", lamenta Curi.
SEGUNDA ONDA? NÃO SAÍMOS DA PRIMEIRA!

Ainda segundo Curi, há uma falsa sensação de que a vida vem voltando à normalidade, quando sequer saímos da primeira onda de Covid-19, sendo que alguns países registram a segunda. E para ele, justamente o exemplo de fora deveria ser aplicado par evitarmos um cenário preocupante em solo tupiniquim".

"Ainda nao caímos tanto para dizermos que nem saímos da nossa primeira, a maré ainda está alta. Na Europa, onde em alguns pontos se cursou com restrições mais rígidas ou mais disciplinadas, há um aumento sensível recente do número de casos. Mas houve, sim, lá, também um relaxamento da população, posterior ao caos inicial. Além disso, há uma nova variante do SARS CoV 2 em vários dos países de lá, e não sabemos se essa mesma variante de mutação chegará aqui - e principalmente, como ela atuará, caso chegue. Portanto, pode inclusive haver aumento dos nossos casos aqui sem que tenhamos chegado ainda na dita 'segunda onda'", completou Curi.
PSICOLÓGICO APERTA, MAS CALMA!

Os especialistas, entretanto, sabem o impacto de um distanciamento dentro do cotidiano e do psicológico da população. Porém, eles fazem uma ressalva de que com o horizonte própero da chegada de uma nova vacina, o ideal, neste momento, seria a adesão ao isolamento para a saída efetiva desse período pandêmico.

"O fato psicológico é substancial. Temos muito tempo de pandemia, as pessoas estão carentes. Quando não temos um horizonte, fica difícil de manter. Mas temos um horizonte claro de vacina talvez no primeiro trimestre. Vamos tirar energias para mantermos esse isolamento. Porém, se relaxarmos aos 47 minutos do segundo tempo, nós jogaremos o jogo todo fora, antes que a vacina estivesse pronta. Vidas poderão ser perdidas e temos um horizonte à frente", avalia Urbano.