Entrevista de Anastasia na revista Época :" É preciso ter coragem para fazer diferente !"


Fonte: Época



Antonio Anastasia: “Podemos abrir frente em São Paulo e Minas”


O coordenador do programa de governo de Aécio Neves deixou o governo de Minas Gerais no último dia 4 e diz que seu candidato irá bem onde o PSDB já está no poder

LEOPOLDO MATEUS E ALBERTO BOMBIG


LONGO PRAZO

Se Aécio Neves for eleito presidente da República, o ex-governador de Minas Gerais Antonio Anastasia deverá ocupar um ministério de destaque. Planejamento ou Casa Civil? “São seus augúrios”, diz, mineiramente. Há duas semanas, Anastasia deixou o Palácio da Liberdade para coordenar o programa tucano de governo, ao lado de Armínio Fraga. Além de se empenhar para eleger Aécio presidente, Anastasia quer um PSDB mais popular e mais presente no cotidiano dos eleitores. “O partido tem de ter uma vida orgânica mais ativa, mais reuniões, interações com a sociedade. Nesse ponto, o PT tem um pouco mais.” Anastasia deu a seguinte entrevista a ÉPOCA.

ÉPOCA – O ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) fez críticas em entrevista recente ao comportamento da oposição. Disse que Aécio Neves e Eduardo Campos priorizam conversas com as elites e que não se veem fotos deles em favelas.

Antonio Anastasia – É claro que a participação de Aécio, Eduardo e outros candidatos em eventos populares é fundamental e tem sido feita. O que não ocorre é a divulgação disso, porque não é ainda momento de divulgar. Então, no momento, eles realizam diversos atos não só no meio empresarial, mas também no meio popular. Eventos de Carnaval, festas populares, procissões no interior de Minas, jogos de futebol. Como ainda não há campanha, a repercussão da notícia é menor. Ocorrerá de maneira sistêmica na hora certa.

ÉPOCA – Então o Aécio buscará o povo nesta campanha?

Anastasia – Sempre buscou. Até porque a eleição se faz com o voto popular. Todo voto é digno e deve ser honrado, de qualquer cidadão. É claro que o PSDB buscará o voto universal. Esse trabalho será feito, mas por etapas. O primeiro grande esforço do candidato é ser conhecido. Aécio é muito pouco conhecido. Mas o conhecimento pleno só existe quando o candidato se submete à campanha presidencial e aparece nacionalmente na televisão, quer nos programas, quer nas inserções partidárias e, fundamentalmente, nas inserções dos telejornais nacionais. O primeiro objetivo é ser conhecido. Esse conhecimento se fará na campanha. Nesse meio-tempo, contato com lideranças sindicais, populares, comunitárias, políticas, empresariais, para receber ideias, se apresentar, fazer palestras em faculdades, em entidades, tudo isso é feito dentro do limite.

ÉPOCA – Qual é a importância dos colégios eleitorais de Minas e São Paulo no planejamento do PSDB para esta campanha?

Anastasia – São os dois Estados mais populosos, ambos governados pelo PSDB há muitos anos. Isso nos dá um cacife para ter uma grande vantagem. Em Minas, havendo um candidato mineiro, como não havia há muitos anos, temos condição de abrir grande frente. Como São Paulo não tem um candidato local e é um Estado em que o PSDB é forte – governa o Estado há 20 anos e tem um governador muito bem avaliado –, o esforço será ter também uma vitória expressiva. São Paulo acaba tendo uma simbologia grande, por ter mais de 20% do eleitorado brasileiro.

ÉPOCA – A roupa suja entre tucanos paulistas e mineiros já está lavada? Em 2010, adeptos de José Serra acusaram Aécio de não se empenhar pela eleição dele.

Anastasia – Ela nunca foi suja, sempre ficou muito limpa e harmônica.

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ÉPOCA – O senhor é a favor de um vice paulista?

Anastasia – Neste momento, do ponto de vista eleitoral, e isso será discutido pelos diversos partidos, um nome de São Paulo certamente somará muito. Aí os partidos é que indicarão. São Paulo sempre teve um grande peso nas eleições presidenciais. Nas últimas seis, quatro foram vencidas por candidatos com carreira política construída em São Paulo – Fernando Henrique e Lula.

"Nossas leis são lenientes.

Às vezes não falta polícia, mas lei

que coloque o bandido na cadeia"

ÉPOCA – Com sua experiência como governador, que avaliação o senhor faz do problema da segurança pública?

Anastasia – Se você perguntar o que mais me aflige, e tenho certeza de que a resposta será unânime entre os 27 governadores, é segurança pública. E também para prefeitos e para a presidente da República.

ÉPOCA – Essa deve ser uma grande bandeira na campanha presidencial?

Anastasia – Será um dos temas nucleares. Por que segurança pública é importante? Porque a segurança, ao contrário de educação e saúde – que sabemos como melhorar e avançar, com os indicadores dessa melhora –, envolve um dado humano de violência incontrolável. Você tem de tomar medidas que sejam cada dia mais inovadoras. Em Minas Gerais, aumentamos o efetivo, aumentamos os salários, aumentamos a qualificação, melhoramos os equipamentos. De acordo com o Ministério da Justiça, Minas é o Estado que mais investe em segurança pública em relação a seu orçamento. Mesmo assim, os indicadores pioram. Na verdade, há um dado subjetivo da conduta violenta da sociedade. Que está associada, em sua esmagadora maioria, ao tráfico de drogas e à legislação penal, hoje muito leniente. Hoje mesmo, li pela manhã que uma bala perdida matou uma menina no interior de Minas. O homem que deu o tiro já fora preso oito vezes. Não é falta de ação policial, é falta que a lei coloque esse cidadão na cadeia.

ÉPOCA – Do que foi feito nos últimos 11 anos em Minas, o que, em caso de vitória de Aécio, deveria ser levado ao governo federal?

Anastasia – Em primeiro lugar, o planejamento. No Brasil, nos desacostumamos de planejar, depois do período inflacionário. Fernando Henrique começou a retomar, mas não houve continuidade. Não temos planejamento hoje no Brasil. Nossa deficiência de infraestrutura é gravíssima. Falta planejamento, falta se associar ao setor privado, conseguir fazer obras em parceria. Falta planejamento também para melhorar a educação. Ninguém melhorará a educação em dez anos. São 20, 30 anos, mas tem de haver um norte. Qual é nosso plano de educação de 20 anos? Não existe. A ideia nuclear é esta. Pensar para adiante.

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ÉPOCA – O senhor é o governador do segundo maior Estado do país, com o segundo menor salário entre os governadores brasileiros – R$ 10.500. Esses salários baixos, como o senhor mesmo admite, não dificultam trazer bons nomes para o setor público?

Anastasia – Dificultam, é um dado da realidade. Mantivemos o salário do governador no nível de 2003 e o dos secretários também. Então, temos optado por fazer a administração com servidores de carreira, da própria administração, dando a eles uma perspectiva, baseada na meritocracia e qualificação. Em Minas, os secretários do Planejamento, da Casa Civil e do Meio Ambiente são servidores de carreira do Estado. Temos uma escola de governo, a Fundação João Pinheiro, em que formamos servidores preparados. Já tenho um secretário de Estado de 30 anos de idade, é dessa escola de governo, vários secretários adjuntos, subsecretários – e a tendência é que servidores egressos da escola ocupem, ao longo do tempo, as funções principais. Claro que haverá sempre a diretriz política, o governo se elege com sua ideologia. Mas é a administração técnica que implementará a orientação política.

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ÉPOCA – O que ficou da experiência de ser governador simultaneamente à presidente Dilma? O senhor acha que ela é boa gestora, é centralizadora?

Anastasia – Primeiro, tenho uma relação pessoal de muita consideração, estima e respeito com a presidente. Convivemos muito ao longo desse tempo, sempre com muita civilidade, com bom entrosamento pessoal. Não tenho nada a reclamar dela, assim como acredito que ela também não tenha nada a reclamar de mim. Agora, são estilos diferentes de administração. Ela segue a ideologia do partido dela, e eu acompanho a minha aqui. Mas, justiça seja feita, essa centralização aguda, acho ruim para a Federação. Não é de agora, é de muitos anos – e vem sendo agravada. Temos de melhorar isso. A centralização é muito nociva ao Brasil.

ÉPOCA – Quanto a 2015, se Aécio perder, o senhor estará no Senado. Se vencer, estará na Casa Civil ou no Ministério do Planejamento. É isso?

Anastasia – Esses são seus augúrios, talvez. Vamos aguardar os fatos. Vamos aguardar se serei candidato ao Senado ou não. Claro que meu intuito primeiro, se me perguntarem, é a eleição do senador Aécio à Presidência da República. O Brasil precisa e precisa muito. Sou testemunha do que ele fez em Minas e sei que tem capacidade de fazer uma grande mudança em nível nacional. Quanto a minha situação pessoal, aguardemos.