
Pequenas Empresas & Grandes Negócios entrevista com exclusividade Marty Cagan, especialista em novas tecnologias e softwares
O americano Marty Cagan, 50, trabalhou com grandes companhias de tecnologia e internet, como a Hewlett-Packard (HP), a Netscape, a America Online (AOL) e o eBay. Ele viu a internet nascer e participou ativamente do seu desenvolvimento, fornecendo consultorias para empresas do Vale do Silício, região dos Estados Unidos que é um dos maiores polos de inovação em tecnologia e internet no mundo. Hoje, ele é gerente de produtos da Silicon Valley Product Group, empresa que oferece consultoria de softwares, marketing, estratégia e usabilidade de produtos. Cagan veio ao Brasil na semana passada para prestar consultoria à Sambatech, empresa mineira de tecnologia, fundada em 2004 e vencedora do prêmio Empreendedor de Sucesso 2009. Ele se definiu menos como consultor e mais como “amigo da empresa”, e disse apostar muito no trabalho que a Sambatech faz com vídeos. “Faz muito sucesso no exterior”, diz ele. Pequenas Empresas & Grandes Negócios aproveitou sua presença no país e perguntou quais são as tendências no setor de internet, software e tecnologia para os próximos anos. Confira a entrevista exclusiva abaixo.
Você trabalhou no Vale do Silício, que é provavelmente a região no mundo que mais concentra inovação em tecnologias e softwares. Quais são as novas descobertas e as apostas mais promissoras de lá?
Há muita coisa acontecendo, mas com certeza as três maiores tendências são celulares, redes sociais e o iPad. Celulares, claro, estão presentes no mundo inteiro; as redes sociais, principalmente o Facebook e o Twitter, e aquelas que trabalham com geolocalização (como o Foursquare); e o iPad, que entrou em cena nos últimos dias. Eu diria que esses três estão ocupando muitas empresas agora, e criando muitas empresas também.
Algumas pessoas disseram que o iPad desapareceria, não faria muito barulho. Você acha diferente?
Há muita especulação. Na minha opinião isso vai ser bem, bem grande. Imagine só, provavelmente a maioria das pessoas que têm um PC ou um Mac não precisam ou não querem esses computadores. E um iPad será muito melhor para elas. A ideia de que, assim como o iPhone, você vai poder simplesmente ligar e usar o iPad, com tudo o que você precisa, navegador, e-mail, calendário, sem ter que se preocupar com vírus nem programas que falham, é maravilhosa. É um produto excelente para pais, sogros, crianças.
Você trabalhou muito com startups que lidam com internet. Que tipos de negócios estão surgindo?
Bom, mais da metade está em alguma dessas categorias, celulares, redes sociais ou iPad. Há o exemplo da Samba Tech, que trabalha com plataforma de vídeos. Ironicamente, o vídeo é maior nos Estados Unidos e na União Europeia. O Brasil tem potencial, mas o problema de trabalhar com vídeo é que você deve ter um grande público com conexão de banda larga, número que ainda é reduzido no país.
O que nós podemos explorar nos celulares?
Celulares de novas gerações, como iPhones e alguns outros, têm algumas vantagens fundamentais sobre os computadores. Para começar, eles cabem no nosso bolso; segundo, ele diz onde o usuário está, tem GPS; e terceiro, está sempre conectado à internet, não depende de uma conexão a cabo ou wi-fi. Essas três características abrem possibilidade para milhares de novos aplicativos. E é por isso que vemos tantos aplicativos que não eram nem concebíveis antes. É uma época divertida para começar uma empresa de internet.
Por conta das diversas possibilidades?
Por causa das possibilidades e, além disso, nunca começar uma empresa foi tão barato. A internet reduziu os custos significativamente. Armazenamos todos nossos dados na nuvem, não é preciso comprar um servidor, você pode utilizar serviços de pessoas em qualquer lugar no mundo, é fantástico.
Você trabalhou com muitas companhias que lidam com a internet, como AOL, Netscape e eBay. Mas a internet tem muitos riscos, há muitas empresas que apostam em uma tecnologia ou site e falham. Que dica você dá para os empreendedores que querem apostar nessa área?
Na verdade sempre foi muito arriscado começar a própria companhia. Mas há uma diferença de hoje em dia com relação a alguns anos atrás. Antes gastava-se muito dinheiro, ou o seu próprio (você hipotecava a casa), ou você utilizava fundos de venture capital, em que alguém ficava com uma grande parcela da sua empresa. Mas hoje você não precisa fazer isso. Hoje, com cerca de US$ 50 mil você consegue fundar uma empresa na área de internet. Isso é o preço de um carro bacana, ou de umas férias. Agora você pode fundar uma empresa sem colocar em risco todas as suas economias.
Mas há sempre um risco em largar o seu emprego e apostar numa empresa. Para minimizá-los, há técnicas que você pode usar para chegar ao sucesso, que vão desde o benchmarking até a confecção de protótipos. Há uma técnica, por exemplo, que se chama “falhe rápido”. O típico iniciante costuma tentar três vezes antes de ter sucesso; então as primeiras duas tentativas não funcionam. Por isso, nós tentamos fazer as duas primeiras tentativas falharem mais rápido, pra ter menos custo, e chegarmos logo à terceira. Isso reduz significantemente os riscos.
Provavelmente ainda não usamos todas as possibilidades que as mídias sociais oferecem. Quais você acha que serão seus próximos usos?
As mídias sociais estão se espalhando por toda a parte. Nós as usamos para organizar e administrar nossos cotidianos, para o trabalho, está realmente fazendo parte de nossas vidas. Para os negócios, elas ajudam a realizar duas tarefas importantes: prospectar clientes e reduzir os custos. Minha empresa gastava cerca de US$ 10 mil no recrutamento de funcionários. Agora vamos ao LinkedIn, vemos as referências e gastamos apenas US$ 1 mil. Fazemos uma economia enorme, e as contratações ficaram melhores, porque você contrata pessoas que trabalharam com seus colegas, gente de quem já tem referências. Elas melhoram nosso jeito de trabalhar.