O Humanismo Poético e a Moral Surrealista






O Humanismo poético e a moral Surrealista




Existe um humanismo que podemos chamá-lo de “ poético” que se apresenta mais de uma analogia com a ética de um Andre Gide e a literatura da “felicidade” dos anos vinte.




Desde o final dos anos XIX que as preocupações éticas invadem os domínios da arte e da poesia.A arte como criação e sobretudo a poesia como modo de existência tendem a tornar-se uma forma de substituição do Sagrado.




Não se trata de dar à vida, a aparência da obra de arte ( essa é a atitude esteta de um Wilde e superficialmente , de um Baudelaire) , mas antes de encarar a atividade artística e normalmente poética, como única justificação da existência.




Quer como conhecimento, quer como exercício de vida, ou ambas, de qualquer modo a poesia eleva o homem acima da sua conduta de homem, torna-se uma atitude sagrada.




Pode se dizer que desde Rimbaud, a poesia e a arte moderna mais válidas, apresentam-se como um esforço de transfiguração da existência humana. Rimbaud, Mallarme, Van Gogh, Cezane,são como se sabe os mais importantes testemunhos dessa procura.




Reconhecemos numa obra de Marcel Proust ( alheia todavia aos problemas morais ) uma concepção análoga sobre o alcance matafísico e ético da arte. Segundo Proust , o valor da arte não provem de si mesma mas do fato de transcrever e consolidar certas descobertas e formas de vida.






A arte fixa aqueles momentos em que o passado, revivendo o presente, nos revela a nossa participação numa ordem intemporal.




É essa a conclusão de “ A La Recherche Du Temps Perdu”




Mas é no Surrealismo – esse movimento poético que, entre 1920 e 1930, foi a vedete da cena literária e cuja virulência está longe de se ter esgotado- é no Surrealismo que se pode ver a mais característica expressão daquela atitude.




O surrealismo interessa-se menos pela arte, pela obra como tal, do que pela exaltação de forças que a poesia faz eclodir : procura definir uma forma poética de existência, mais ainda que uma estética e por dar a esta forma de existência um valor exemplar




È nesse sentido que podemos falar de um “moral surrealista” e “ um homem surrealista”